Joo-Chan, cristão Norte Coreano: "Deus, quero viver"




COREIA DO NORTE (1º) - A Missão Portas Abertas está em férias coletivas entre os dias 22 de dezembro e 2 de janeiro.

Nesse período, o site terá um conteúdo especial, com testemunhos que podem ser usados nas igrejas, em pequenos grupos ou em qualquer situação, para a edificação do Corpo de Cristo.

Em dezembro de 2005 um norte coreano que conseguiu fugir para a China escreveu e testemunhou sobre onde recebeu a salvação após estar à beira da morte.

Park Joo-Chan conseguiu ir para a Coréia do Sul, onde estuda teologia e espera o momento de poder voltar ao seu país para anunciar o evangelho de Jesus aos seus conterrâneos.

Park Joo-Chan (nome fictício) já deveria estar morto. Por causa disso, o norte-coreano Park Joo-Chan sabe melhor do que ninguém o que é viver pela graça. Na noite que deveria ter sido a sua última na Terra, ele se ajoelhou pela primeira vez. E Deus o salvou do frio congelante da capital chinesa, Pequim.

Joo-Chan fala com voz baixa, quase inaudível. Estamos na sala de um professor da Universidade de Teologia na cidade de Seul, Coréia do Sul. Joo-Chan está estudando aqui para se preparar para o que está por vir. Ele tem certeza de que um dia Deus irá chamá-lo para retornar a Coréia do Norte. E então ele irá.

É difícil para qualquer um que olhe nos olhos brilhantes de Joo-Chan, 33 anos, entender as imagens que passam por sua cabeça. Ele ainda tem lembranças de seu colégio, onde o sistema de autocrítica era aplicado.

 "Todos tinham que ficar de pé (um por vez) na frente da turma e os colegas de classe tinham de dizer o que ele tinha feito de errado. Depois disso, ele tinha que se autocríticas. Você tinha de criticar até seu melhor amigo. Por exemplo, eu disse a ele: "Kim Il Sung disse que você deveria se livrar das tolices, mas você não fez isso" Claro que ele ficou bravo comigo. E ele revidou quando foi a minha vez. Todos nós nos sentíamos muito culpados por ter que dizer essas coisas. Isso causou um rompimento em nossas amizades, mas não duvidávamos da utilidade desse método. "

O exército

Quando Joo-Chan completou 17 anos, teve de entrar para o exército.

“ Aquele foi o período mais difícil da minha vida. Recebíamos pouquíssima comida. Nunca havia nenhum tipo de carne. Às vezes, recebíamos um pouco de arroz. Em geral, comíamos praticamente só milho. Acabei ficando doente. Não somente por causa da desnutrição, mas também por dormir no chão gelado. Uma das minhas pernas congelou. Nunca me recuperei totalmente disso, essa perna não funciona mais normalmente".

 “Depois de cinco anos, fui dispensado do Exército por causa da enfermidade, quando eu deveria ter servido por dez anos. Entre dois milhões de soldados, relativamente poucos estão envolvidos em treinamentos. A maior parte deles trabalha na terra ou nas fábricas. As pessoas estavam subnutridas, doentes ou feridas em incontáveis acidentes. Hepatite e tuberculose eram doenças comuns.”

Além de treinar armamento e combate, coisa que os soldados faziam por um mês inteiro a cada duas vezes ao ano, eles também eram instruídos na ideologia do Estado.

 “Tínhamos de ver a Coréia do Norte e a do Sul como uma só nação. Já havíamos sido libertados graças a Kim Il Sung. O Sul ainda estava sob a opressão dos norte-americanos. Além disso, eles eram os responsáveis por todas as coisas ruins e a escassez na República Popular Democrática da Coréia, como É oficialmente conhecida a Coréia do Norte. Em certas ocasiões, considerávamos o cristianismo e aprendi que essa religião era norte-americana e depravada. Eu não me lembro muito mais sobre isso".

Fome


A fome surgiu na época em que Kim Il Sung morreu, em 1994. Joo-Chan percorreu o país inteiro atrás de comida, mas em 1998 ele decidiu ir para a China com um amigo:
"Eu não podia dizer nada aos meus pais. Se eu tivesse dito a eles o meu plano, isso os teria colocado em grande perigo.

No dia da nossa fuga, meu amigo e eu fomos para as montanhas, nos escondemos e esperamos anoitecer. Não conseguíamos enxergar nada à nossa frente quando descemos o rio. Tivemos de nadar para chegar ao outro lado. Não tínhamos nada conosco, apenas as roupas que estávamos usando".

Quando chegaram à China, eles foram para a casa de alguns sino-coreanos.

"Eles eram cristãos. Eu tinha muito preconceito contra eles, mas não tinha escolha, precisei engolir o preconceito. Eles nos ajudaram, não tínhamos mais ninguém. Por meio da vida da esposa, em especial, que normalmente ficava em casa, percebemos que os cristãos eram pessoas generosas. Nesse caso, foi assim no começo, mas, quanto mais norte-coreanos fugiam de lá, mais rigorosa ficava a busca da polícia.

 O casal ficou com medo e se tornou menos amigável. Eu também estava nervoso. Meu amigo e eu não podíamos ficar juntos. Ele foi trabalhar em um restaurante na cidade. Eu fui para uma construção fora da cidade. Um dia, ele não retornou para a casa novamente. A polícia fez buscas sistemáticas na indústria alimentícia à procura de imigrantes ilegais. Eles o pegaram e o mandaram de volta... Eu nunca mais ouvi falar dele."

Joo-Chan ficou arrasado, e se tornou cada vez mais depressivo. Ele ficou doente e até precisou de uma bengala para poder andar. Ele foi à igreja procurar ajuda.

"Eu tinha ouvido em uma estação de rádio coreana que os cristãos coreanos, frequentemente, ajudavam os refugiados. A igreja queria ajudar, mas não podia. Entretanto, eles arrecadaram dinheiro e pude comprar uma passagem de trem para Pequim. Eu queria me inscrever na embaixada sul-coreana, mas eu estava tão mal e as minhas roupas estavam tão gastas que a polícia iria ver imediatamente que eu era um refugiado norte-coreano".

Salvação

Em Pequim, o dinheiro de Joo-Chan acabou logo e a sua saúde se deteriorou rapidamente.

"Uma noite eu tive uma certeza: aquela seria a minha última noite. Eu estava deitado perto de um edifício e sabia que iria morrer. Então, pela primeira vez, eu me ajoelhei e orei ao Deus dos cristãos. Eu disse: "Deus, não tenho nem trinta anos. Não quero morrer ainda. Quero viver".

Depois disso, eu dormi. Ele respondeu à minha oração. Eu não morri congelado naquele dia! No dia seguinte, conheci um sino-coreano que, sem mais nem menos, se ofereceu para me ajudar. Ele me apresentou uma Igreja. Lá eles tinham dinheiro suficiente para pagar uma operação para mim. Após a operação, eu tive certeza: "Deus existe! Ele me salvou"".

Essa salvação trouxe uma mudança radical na vida de Joo-Chan.

"Nos três anos seguintes, eu li a Bíblia umas cem vezes. Eu não entendia nada, mas me comoveu muito, em especial, a passagem de João, capítulo 21, no qual Jesus diz a Pedro que quando ele era jovem ele se vestia sozinho, mas que quando ele estivesse velho, alguém o vestiria. Eu vi isso como um exemplo de como Deus assume a direção da vida de uma pessoa.

 Eu estava tão feliz porque Deus queria me guiar também. Só após ter sido salvo por Deus é que comecei a me dar valor. Entrei em contato com o irmão Peter, da Portas Abertas. Ele me apresentou ao grupo de estudo da Bíblia para norte-coreanos. Esses cristãos queriam voltar à Coréia do Norte para disseminar o evangelho para as pessoas de lá. Mas Deus não queria que fôssemos ainda. Ele deve ter tido seus motivos. No final, o grupo se desfez."

Coreia do Sul

Em um dado momento, alguns velhos amigos de Joo-Chan, que já estavam na Coréia do Sul, descobriram onde ele estava. Eles enviaram dinheiro para levá-lo à Coréia do Sul. Foi uma viagem longa e perigosa por vários países, mas Joo-Chan finalmente chegou ao seu destino. Apesar da prosperidade em Seul, Joo-Chan pensa apenas na Coréia do Norte:

"Por meio de sonhos, Deus tem me preparado para retornar. Quando eu voltar, quero apenas dizer às pessoas uma coisa: a história da salvação de Jesus. Posso mostrar a eles que ainda estou limitado por causa da minha perna, mas também que Deus me trouxe a salvação e que eu tenho perspectiva de algo melhor no céu".
Pedidos de oração:
  • Ore para que Deus me use.
  • Ore por meus estudos teológicos, que são muito difíceis.
  • Ore pelo meu ministério na Coréia do Sul, onde comecei um grupo de estudo bíblico.
  •  Ore pelos refugiados norte-coreanos, especialmente pelas mulheres (que frequentemente sofrem abusos) e pelas crianças.

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" Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona

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